top of page

PILASTRO | SERIES | 2019 - 2022

PT

 

O fazer escultórico é sempre uma espécie de dança entre o artista e seus materiais. Em constante negociação, conduzem um bailado ora conflituoso ora harmônico até uma decisão mútua em direção ao fim. Nessa dinâmica, seria ingênuo acreditar em qualquer inocência da matéria: uma vez presente, ela não se esquiva de falar, faz questão de ter voz ativa por todo o processo.

 

Esculpir, portanto, pode ser pensado como uma coreografia que rasga o espaço em movimentos capazes de deixar rastros de naturezas diversas. Em sua série Pilastros, iniciada em 2019, Gabriella Garcia arquiteta estruturas em gesso sobre bases de serralheria. O esqueleto, no entanto, nunca nos é visível. Quem fala, nesta dança, é a massa amorfa e inquieta do gesso, sobre a qual sobrepõem-se camadas de cor.

 

Dentro da produção da artista, pouco ou nenhuma hierarquia se dá entre suportes e formatos. Assim, seus pilastros são pensados enquanto pinturas na paisagem, cujos tons de rosa, pastel, bege e afins evocam a gradação cromática dos movimentos do sol quando do nascer e do poente. A coreografia diária do astro-rei no espaço sideral.

 

Em seu sentido original, a palavra coreografar pressupõe organizar os movimentos no espaço. Mas pode designar também um tipo de desenho, um movimento. Em grupo, a Foto de família de Garcia está pronta, cada integrante em sua posição demarcada, prontas para a abertura das cortinas. Em uma dança pontuada pelo gesto — pelas mãos da artista — cada escultura busca seu equilíbrio em um trôpego balé da forma. Edificam-se no espaço, rochosas, maciças, corpulentas. Leves, suaves, etéreas. Pura teatralidade e ilusão.

 

Se uma escultura é sempre um campo ampliado de possibilidades de significação, poderíamos ler os trabalhos de Gabriella Garcia como edificações fálicas, erguidas em direção ao alto. Na arquitetura greco-romana, as colunas desempenhavam um papel alegórico da força masculina, simbolizando a força dos deuses que sustentavam os templos. Os pilares eram tomados, então, como vértebras que fortaleciam tais estruturas.

 

Se lidas enquanto colunas, as esculturas de Garcia seriam falhas; tortas, enviesadas, retorcidas. Se está em jogo aqui certo duelo entre abstração e antropomorfia, são obras recusam definições rasteiras, colocam em cheque qualquer desejo vão de binarização. Seriam falos em descontrução. Falos sem fala.

EN

 

Sculptural making is always a kind of dance between the artist and his materials. In constant negotiation, they lead a dance that is sometimes conflicting, sometimes harmonic, until a mutual decision towards the end. In this dynamic, it would be naive to believe in any innocence of the matter: once it is present, it does not shy away from speaking, it insists on having an active voice throughout the process.

 

Sculpting, therefore, can be thought of as a choreography that tears space in movements capable of leaving traces of different natures. In her Pilastros series, started in 2019, Gabriella Garcia architects plaster structures on sawmill bases. The skeleton, however, is never visible to us. The speaker in this dance is the amorphous and restless mass of plaster, on which layers of color are superimposed.

 

Within the artist's production, there is little or no hierarchy between supports and formats. Thus, its pilasters are thought of as paintings in the landscape, whose shades of pink, pastel, beige and the like evoke the chromatic gradation of the sun's movements at sunrise and sunset. The astro-king's daily choreography in outer space.

 

In its original sense, the word choreographing presupposes organizing movements in space. But it can also designate a type of drawing, a movement. As a group, Garcia's family photo is ready, each member in their demarcated position, ready for the curtains to open. In a dance punctuated by gesture — by the artist's hands — each sculpture seeks its balance in a stumbling ballet of form. They are built in space, rocky, massive, corpulent. Light, smooth, ethereal. Pure theatricality and illusion.

If a sculpture is always an expanded field of possibilities for meaning, we could read Gabriella Garcia's work as phallic buildings, erected towards the heights. In Greco-Roman architecture, the columns played an allegorical role of male strength, symbolizing the strength of the gods who supported the temples. The pillars were then taken as vertebrae that strengthened such structures.

 

If read as columns, Garcia's sculptures would be flawed; crooked, skewed, twisted. If a duel between abstraction and anthropomorphy is at stake here, these are works that refuse shallow definitions, putting in check any vain desire for binarization. They would be falsehoods in deconstruction. Speechless phalluses.

Victor Gorgulho, 2021

bottom of page