THE UNTHINKABLE MATERIAL BODY vs THE IMMATERIAL MIND, 2022
PT
A opacidade ganha a estranha transparência do conceito. Agora a escuridão, irredutível à mera fisicalidade da ausência de luz, afirma-se como conhecimento e circunstância. Um véu vela uma versão da verdade. É a intermediação do olhar. Já não se lê nem se vê o fato, mas se testemunha sua invisibilidade.
Partindo da premissa de que a objetividade é sempre um mínimo de subjetividade, Gabriella Garcia nos convida a desviar nossa atenção para a decadência de qualquer sistema classificatório humano, construindo taxonomias não binárias que influenciam o corpo de obras a serem observados.
Assim, os pigmentos, cortinas e pilhas harmoniosas escondem uma barricada: em vez de ordenar, acentuam o caráter caótico e inextricável do anseio pelo que pode vir a ser valorizado como organização e prazer.
Garcia pretende demonstrar como o uso negacionista de modelos taxonômicos como arquétipos, catálogos, listas e índices, simultaneamente com propriedades líquidas como astrologia, sonhos e memória, pode ser realizado de forma rítmica e ainda irônica.
Trazendo todas essas nuances de farsas, invisibilidades e arrependimentos em suas obras, as duas artistas tensionam o poder narrativo que as imagens criaram no mundo e esclarecem como o questionamento se torna extremamente urgente e necessário para que a história não se repita como uma tragédia ainda maior.
EN
The opacity gains the strange transparency of the concept. Now darkness, irreducible to the mere physicality of the absence of light, asserts itself as knowledge and circumstance. A veil veils one version of the truth. It is the intermediation of the gaze. The fact is no longer read or seen, but its invisibility is witnessed.
Starting from the premise that objectivity is always a minimum of subjectivity, Gabriella Garcia invites us to divert our attention to the decadence of any human classification system, building non-binary taxonomies that influence the body of works to be observed.
Thus, pigments, curtains and harmonious piles hide a barricade: instead of ordering, they accentuate the chaotic and inextricable character of the yearning for what can be valued as organization and pleasure. Garcia intends to demonstrate how the negationist use of taxonomic models such as archetypes, catalogues, lists and indexes, simultaneously with liquid properties such as astrology, dreams and memory, can be performed in a rhythmic and even ironic way.
Bringing all these nuances of farces, invisibilities and regrets into her works, the artist stresses the narrative power that images have created in the world and clarifies how questioning becomes extremely urgent and necessary so that history does not repeat itself as an even greater tragedy.
